# WHY ON EARTH WOULD I PARTICIPATE IN A YOGA RETREAT?!

Estava a ouvir ela, a falar com ele.

E a sentir-me constrangida, porque aquela conversa fazia mais sentido ser feita só entre eles, mas aconteceu ali, ela tocar no assunto e perguntar-me se ainda tínhamos vagas neste último Retiro de Ashtanga Yoga de 2016, que vai acontecer nos próximos dias 28, 29 e 30 de Outubro. Ao qual eu respondi que ainda haviam alguns, poucos, quartos disponíveis. E ela ferozmente virou-se para ele e disse-lhe, “TU DEVIAS IR!” E ele por sua vez, ainda mais agressivo, quase que gritou, “MAS PORQUE DIABOS HAVERIA EU DE PARTICIPAR NUM RETIRO DE YOGA?!” E eu ali a olhar para eles com olhos de espanto, porque não estava de todo à espera desta conversa, feita daquele modo, na minha presença. Há uns tempos que ambos têm ar de cansados, são irmãos, sei que trabalham horas a fio na gestão da sua empresa, praticam cá em casa, religiosamente, 4 dias por semana. Vejo-os a entrar com um ar de poucos amigos, (como agora), mas saem sempre muito mais levezinhos, dão o litro no tapete, penso que em forma de se libertarem de todo o stress que acumulam no trabalho, dirigem uma empresa familiar, que foi passada para eles pelo pai, e têm estado a viver alguns conflitos entre si, face às responsabilidades e decisões de levar o negócio para a frente. Tento sempre trabalhar com eles, numa base de os acalmar, estou constantemente a relembrá-los da respiração, do poder de uma respiração consciente e ritmada.

Um coloca o tapete no começo da sala, e o outro, quando vêm à mesma aula, coloca no final, andam de costas viradas há uns meses, e é fácil de sentir a energia intensa entre ambos. Do meu lado, tento que  se aproximem, acabo por gerir os tapetes na sala para trazê-los mais perto um do outro, no final da aula, quase sempre deito-os um ao lado do outro, e nos primeiros momentos sinto que não acham muita graça. Vou para perto deles e dou as mesmas directrizes aos dois, escolho determinado exercício de relaxamento, sempre usando visualizações, imagens, palavras, coordenadas com a consciência da respiração, para mantê-los cientes que têm por eles mesmos, maneira de acalmar, bastando aceder às suas próprias inspirações e expirações. Saem da aula quase sempre, um à frente do outro, despedem-se com um sorriso sincero para mim, e com nítido ar de mais leves no corpo, na mente e especialmente no coração.

Mas voltando à salinha de entrada, e aquela discussão acessa entre irmãos. Ela diz-lhe, alto, como se estivéssemos na rua e como se eles não tivessem feito a prática há menos de 10m, “FAZIA-TE BEM, NÃO TENS REPARADO COMO ESTÁS? NÃO TE PODEMOS DIZER NADA, TU FICAS LOGO IRRITADO!O RETIRO IA ACALMAR-TE!” e ele não demora na resposta, “OLHA QUEM FALA! TU ESTÁS IGUAL!”, ” NÃO OUVES MARIA, OU ÉS DO CONTRA EM TUDO, ASSIM NÃO CONSEGUIMOS FECHAR O NEGÓCIO COM ESPANHA, NEM ACABAR COM AQUELE EXAGERO DE DESPESA COM O RAIO DO FORNECEDOR LÁ DE CIMA!”, e andaram nisto uns minutos, um dizia uma coisa, o outro outra, tudo sobre negócios, os nervos à flor da pele, tudo o que andaram a engolir com certeza há dias, ou semanas, ou no caso deles há meses. E eu sem saber bem se saía de fininho da sala, se lhes dizia para pararem, se continuava a deixar que eles largassem o que sentiam que deviam largar, até que quando os ânimos começaram a serenar, lá decidi intervir. ” OLHEM DESCULPEM…”, e eles os dois olharam para mim, como se só ali, se tivessem apercebido que eu estava na sala, pediram os dois de imediato desculpas e ficaram visivelmente envergonhados pela situação. Eu continuei, “VOLTANDO Á QUESTÃO DO RETIRO… SE NÃO ME LEVAM A MAL, A MINHA OPINIÃO, MAS ACHO QUE DEVIAM VIR OS DOIS, ATÉ PARTILHAREM QUARTO,  E APROVEITAREM AQUELES TRÊS DIAS DE PAUSA NESSA VOSSA ROTINA DE MUITO TRABALHO, E DEDICAREM-SE À PRÁTICA QUE AMBOS GOSTAM, ÁS CAMINHADAS, A TI JOÃO, PUDERES IR SURFAR COM O JO, COMEREM BEM, E CONSEGUIREM ENCONTRAR UM EQUILÍBRIO COM VOCÊS MESMOS E TAMBÉM ENTRE VOCÊS.” Os dois ficaram a olhar para mim, e sem eu estar de todo à espera, ela foi a primeira a dizer que vinha, ele abanou a cabeça umas quantas vezes, deu umas quantas desculpas, da mulher e dos filhos, e do trabalho, e acho que só consegui convencê-lo com a ideia de voltar a surfar três dias e de praticar Ashtanga que tanto gosta!

O Retiro é pensado para ser um tempo para si mesmo, de reencontro, de inspiração, de activar de força interna, mas também de melhoria nas relações com os outros. E no final da conversa ambos combinaram ir na viagem no mesmo carro! Fizeram a reserva no mesmo quarto! Disseram que não partilhavam um quarto desde as férias que faziam na casa dos pais no Alentejo quando tinham ambos 15 e 17 anos! Hoje têm 45 e 47! Criaram a condição de não falarem de trabalho, ali à minha frente, quase que o disseram ao mesmo tempo. Saíram da escola lado a lado, iam a conversar e pela janela cá de cima, vi sorrisos um do outro… Porque diabo participar num Retiro de Ashtanga Yoga? Porque têm a oportunidade de estar em lugares únicos, de praticarem Ashtanga sem haver preocupação de tempo, de participarem em aulas de Alongamentos importantes ao final do dia, de viverem relaxamentos Guiados induzindo a estados de pura paz, de escutarem palestras sobre como levar o Ashtanga para lá dos tapetes, de inserirem pequenos exercícios de meditação que tanto benefício trará à vossa saúde, mas também do tal convívio, onde haverá mesmo espaço e tempo para muitas gargalhadas, seja nas aulas de surf para quem nunca experimentou colocar-se de pé numa prancha, ou para as surfadas dos mais experientes, as caminhadas, e muito mais!

 

BOAS PRÁTICAS

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