#WHEN YOU ARE NOT A FERRARI
Há umas semanas atrás fiquei a saber que o meu primeiro professor de Ashtanga Yoga, o Tarik Van Prehn, vinha com a sua mulher, a Lea Perfetti, ensinar um workshop de fim-de-semana a Lisboa. Lá olhei bem a agenda, e entendi que conseguia participar numa das manhãs, e foi com gosto que eu e o Jo fizemos a nossa inscrição. Nos primeiros instantes da nossa chegada, fui reconhecendo caras de praticantes que já não via há uns tempos, alguns são dos primeiros alunos do Tarik, uma primeira geração de praticantes de Ashtanga Yoga em Portugal, pessoas que conheci quando era uma menina de 21 anos, e que agora passados 14 anos, ainda somos a mesma gente, mas pessoas já diferentes, quer seja pela experiência da prática, pela idade, pela vida.
Com esta barriga de 6 meses e algumas semanas de gravidez, a fazer o Ashtanga Yoga adaptado às minhas condições, senti-me plena, pelo bendito calor, intensidade e conexão com a respiração e com o corpo, e ao mesmo tempo, serenidade, bem-estar, e alegria por estar ali na sala com estes professores.
Após a prática, houve conferência, e a determinada altura, Tarik e Lea deram um exemplo que eu adorei, falavam sobre todos virmos ao Mundo com um determinado leque de características, que posteriormente podemos desenvolver ou não, e que pela prática conseguimos gradualmente alargar, o que outrora considerávamos limitações, sejam físicas, mentais, etc. Mas que se formos um CLIO, e eles falaram de marcas de carros, não porque são apaixonados por automóveis, mas porque foi uma forma de todos entendermos o que eles tentavam explicar, até podemos fazer “car tuning”, modificarmos algumas partes do nosso veículo, embelezar outras, mas que nunca seremos um FERRARI.
Sim, pela prática e pelas nossas opções de vida, podemos melhorar vários aspectos, desenvolvermos capacidades que anteriormente considerámos impossíveis, mas há que existir humildade, aceitação e entrega. Sim, há mudanças que conseguimos alcançar, que à priori pareciam impossíveis. Que com coerência, perseverança, dedicação, superamo-nos a nós mesmos de múltiplas formas, e que até podemos alcançar um estado de Ferrari na mente, ou no coração, mas em forma física mantemos a estrutura do Clio. Então se por um lado, há que manter a prática, ganhar força interna, para criar um rotina, de modo a que os benefícios e transformações possam acontecer, por outro lado há que manter pés na terra, reconhecer onde estamos, e praticarmos com calma, sem pensarmos, que ou tudo ou nada, ou pratico a fundo, ou não estendo o tapete por meses, ou faço aquela postura na perfeição, e por isso dou cabo das minhas estruturas, ou ganho desmotivação, e encosto-me ao fácil, o desistir.
Há que adaptar a prática à vida, e aos poucos sem darmos por ela, a vida ajustou-se à nossa prática. Sermos gentis connosco mesmo, desenvolvermos respeito por nós próprios, e pelo nosso veículo de vida, o corpo, e praticarmos com serenidade. Sem julgamentos, ou traçarmos metas e objectivos, que muitas vezes são completamente irrealistas, e não porque a prática não é transformadora, mas porque existem alterações que não fazem sentido. Um Clio nunca se tornará um Ferrari, nem vice-versa, um Ferrari não se tornará um Clio!