Tu não tens aquilo que queres…
Ela afirmou do alto dos seus 85 anos, “pois tu não tens aquilo que tu queres, mas o que precisas”. E eu rendida às evidências, abanei a cabeça e reproduzi um sim, meio envergonhado, porque entendi perfeitamente o que ela estava a tentar ensinar-me. Não foi uma vergonha de culpa ou arrependimento, nem de critica ou julgamento. Era uma vergonha mais amiguinha, aquela voz cá dentro que dá o abraço interno, e permite que possamos compreender aquilo que até então, não estava a fazer sentido. Porque às vezes ficar envergonhado pode ser bom, quando vem do lugar certo, um lugar de aceitação e entrega.
É que aquilo que necessitamos nem sempre é agradável, ou simples, e muitas vezes, e por mais difícil que seja aceitar, parece ser exactamente o que precisamos de aprender, ou de mudar. E não vale a pena queixar, fugir, fingir, porque mais cedo ou mais tarde, a situação volta. Volta mais uma vez, e tantas outras vezes, até cedermos e aprendermos as lições.
Do alto dos seus 85 anos, com o seu cabelo todo branco, aquela senhora pequenina, relembrou-me que é preciso levantar a cabeça não porque vestimos as roupas do ego mas porque calçamos os sapatos da humildade, arregaçamos as mangas e começamos ali a lidar com aquilo que causa sofrimento. E se já tentaste, e até muitas vezes, lidar com o assunto, com a situação, com a pessoa, ou contigo mesmo, mas desististe porque sentiste que era difícil, sabe que todas essas tentativas são uma maravilhosa benção para cresceres e desenvolveres melhores estratégias. Não há caminhos perfeitos, e esta vida faz assim, a aprender.
Lembra-te que tu não tens aquilo que queres, mas o que precisas. E o que precisas é de baixar a guardar, os muros, abrir portas na carapaça que ajuda a esconder-te, e por dedicação e autocuidado, polires a beleza de seres um ser humano mais humilde, compassivo e integrado.
Experimenta.