Tempo para reiniciar
Há muitos meses que eu comecei a planear esta viagem!
Depois de falar com o meu marido e com alguns dos meus professores directos, e perceber que certos destinos eram impossíveis porque implicavam muitos dias de viagem, e que eu estaria realmente muito longe de casa, senti que o melhor seria voltar ao país do meu coração e estar com uma professora que esteve comigo durante a gravidez da Concha.
A Sharmila Desai é uma das professoras que mais admiro, porque além de ser uma mulher simples, terna e de uma incrível generosidade, foi também a pessoa que melhor me aconselhou durante a gravidez. Conhecemo-nos pessoalmente quando ela esteve no Ashtanga Cascais a ensinar o seu primeiro Workshop Intensivo em Portugal, eu estava grávida da Concha, e os seus ajustes ficaram no meu corpo praticamente até ao dia do parto, e a sua voz meiga na minha mente e coração como inspiração a coragem e fé. Foi também a professora com quem troquei muitas mensagens depois da Concha nascer, e as suas respostas foram sempre de uma enorme sensatez e equilíbrio.
Ela abriu o Ashtanga Yoga Morjim, em Goa, na Índia, há pouco mais de um ano, e começou apenas com alguns praticantes, para actualmente estar a leccionar, sozinha, tantos alunos! É tem sido uma verdadeira inspiração puder observar todas as manhãs a sua forma de trabalhar, e um privilégio fazer parte do grupo dos seus alunos.
Quando estamos à espera para ela chamar o nosso nome para entrar na sala, (e sim, ela sabe o nome de todas estas pessoas) observamos o decorrer de uma aula que inspira a calma, composta por pessoas a respirarem pelo nariz produzindo um som baixo, estável e contínuo, o verdadeiro alicerce à execução, com simplicidade e foco, dos movimentos e posturas. A Sharmila vai ajudando aluno a aluno, fala em voz baixa com cada um, organiza os lugares na sala sem pressa, e o tempo decorre sem darmos conta dele, porque há realmente uma conexão ao que estamos a fazer no momento.
Não foi fácil decidir vir fazer esta viagem, porque essa escolha trazia alguma ansiedade, medo e até insegurança. Mas às vezes é necessário reconhecer que é a altura de parar, para que a quebra na rotina estabelecida, permita que façamos um tempo para reiniciar aquilo que estava de alguma forma bloqueado. E sozinhos, com familiares ou amigos, procurar um lugar que inspire a simplicidade, conexão, e equilíbrio. Encontraremos igualmente desafios, e nem tudo será perfeito ou idílico, porque possivelmente seremos obrigados a sair de dentro do conforto e do fácil, acima de tudo do que já conhecemos! Mas a troca deste acto audaz é ter o privilégio de estar junto de pessoas que nos inspiram, e viver dias a recolher momentos que são benditas paragens, que oferecem o tal tempo de reiniciar um cultivo de saúde, bem-estar e alegria.