#PERFECT CONDITIONS
Se existissem condições perfeitas para praticarmos Ashtanga Yoga, parece-me que este Abril daria inicio a uma “dream season”. Depois de ultrapassarmos as dificuldades de um inverno frio, com práticas feitas junto aos aquecedores, vestidos com várias camadas de roupa, na procura de sentir calor, um que só os praticantes de Ashtanga conhecem, que nasce de dentro para fora, fruto das respirações dinâmicas e conscientes associadas aos movimentos e posturas, e que ampara grandemente o processo de desintoxicação física e de limpeza profunda dos nossos corpos.
Para trás parecem ficar os dias das práticas “secas”, onde não havia maneira de sentir aquele abençoado calor, que normalmente fluí em crescente, com a continuidade dos nossos movimentos e posturas, culminando num estado de perfeita comunhão entre o nosso corpo e mente. Os aquecedores foram guardados, as janelas estão abertas, os dias de nuvens e chuva foram substituídos pelos de sol, e cá dentro é notório como todos se movem com maior facilidade, como rapidamente sentem o sagrado calor, gotas e gotas de água a escorrerem pelos corpos, limpando físico, e serenando mente e emoções. Renovando energias, e impulsionando um largar do que ficou para trás, preparando-nos para vivermos intensa e profundamente um presente, que é multiplicado por cada inspiração e expiração que sucede.
Mas por mais entusiasmo que se sinta na sala, por mais comparação que possamos traçar entre práticas de Inverno versus práticas de Primavera, a verdade é que não há condições perfeitas para praticarmos Ashtanga Yoga. E se fizermos o exercício mental, de irmos lá atrás, às memórias dos nossos meses de Inverno, lembramo-nos de vários dias que fluímos, que embora o calor fosse ténue, umas gotinhas aqui e ali, que também sentimos intensidade, dinamismo e foco. E é bom sublinhar que acontecerá exactamente o contrário, mesmo nestes meses de maiores temperaturas, onde o calor surge sem qualquer impedimento, vão existir dias que teremos práticas exigentes, complicadas, aquelas onde ficamos de frente com os bloqueios do corpo, ou com as dificuldades na mente e coração. Não há condições perfeitas para o nosso Ashtanga Yoga, mas se andava a precisar de um estímulo para a sua rotina de prática, aconselho a ir buscar o seu tapete, aquele que guardou no começo do Inverno, quando perdeu motivação e inspiração, e volte a pisar o chão do seu Shala. Na primeira aula, sentirá algum arrependimento por ter andado desaparecido, lembrar-se-à como esta prática é especial, como faz bem o seu corpo e à sua cabeça. Quando ultrapassar este tipo de emoções, sentirá compaixão por si mesmo, e aceitará que todos fazemos opções, às vezes que nos desviam daquilo que acreditamos, mas que nunca é tarde para retomar aquilo que gostamos.