#ONE BY ONE

De quando em quando aparecem cá em casa, praticantes que não têm um só professor, são pessoas que de alguma forma ainda não conseguiram confiar numa  pessoa para ajudá-los a seguirem a tradição deixada por Shri K. Pattabhi Jois, e continuada por Sharath e Saraswati Jois. Esta tradição fala de aprenderemos Yoga com um professor, um só professor, seguir as suas indicações e confiarmos no processo da prática e desta relação.

Este processo entre professor e aluno só surge se existirem consistência, persistência, perseverança, confiança e entrega. Não é um algo que acontece  numas semanas, nem tão pouco meses, leva anos a construirmos uma ligação com aquele que nos ensina. Pelo meio metem-se vários obstáculos e armadilhas, na maioria das vezes advindas do nosso Ego, que tende a depositar no professor a culpa para os nossos medos, receios, angústias e frustrações. Mas após a superação de cada dificuldade, a relação vai tornando-se mais forte, mais verdadeira e mais intensa.

No meu caminho pessoal de prática, tive o privilégio de aprender com bastantes pessoas, nem todas as considero como professoras, mas a todos tenho gratidão. Sinto especial apreço por aqueles que têm vindo a ficar no meu caminho mais tempo, e com quem pude aprofundar esta dádiva de os chamar professores, e esta dádiva de me entregar ao papel de aluna e de praticante. Não é de todo fácil discernir quem é professor e quem não é, até porque com humildade pudemos aprender com todas as pessoas que passam no nosso quotidiano, seja com os nossos filhos, com o desconhecido que meteu conversa connosco, com o senhor que nos atende no banco, com qualquer pessoa que não está nos limites do Shala, mas que de alguma forma nos mostra uma lição de Yoga para colocarmos no nosso dia-a-dia.

Mas a cada ano, reparo como é importante puder aprender com alguém experiente, e  que coloca o Yoga, o Ashtanga Yoga no seu quotidiano, nas suas relações com os outros e com o que o rodeiam. E como é importante aprender a tradição deixada pelo Guruji de forma correcta, o Ashtanga é um método vivo, porque Sharath e Saraswati, continuam a leccionar em Mysore a centenas de praticantes, todos com limitações e qualidades diferentes, sejam físicas, mentais, emocionais, energéticas e espirituais, e o método continua a sofrer alterações por existir uma constante pesquisa, um estudo face ao que observam nas aulas. E que por sua vez passa a ser seguido pelos professores que estudam com eles, e distribuído pelas centenas de escolas de Ashtanga Yoga por esse mundo fora.

Para aqueles que não têm oportunidade de estar vários meses na India, ano atrás de ano, têm a maravilhosa opção de estudarem com pessoas que fizeram o esforço de criarem uma ligação com a linhagem de Pattabhi Jois. Cabe a cada um de nós entender com quem estudarmos, e isso é algo muito pessoal, e único. O ensino e aprendizagem nesta tradição não é feita por livros, ou filmes no Youtube, ou em workshops constantes de 3 ou 4 dias com professor D, E, F, G. Mas por uma ligação constante com um professor, que ensina, aconselha, ajusta, ampara, dia atrás de dia, mês atrás de mês, ano atrás de ano.  Claro que os workshops são ou podem ser,  formas de mantermos contacto com um professor com quem sentimos conexão, e que muitas vezes são as únicas opções para estudarmos com eles, mas não é isso que me refiro, o que expresso é que andarmos a passear desenfreadamente por workshop com professor A, B, C, D, E, ou passearmos pela escola A, B, C, D, E, não é a tradição que a família Jois apresenta. A tradição é sim, fazermos uma ligação com um professor, e termos a paciência e a consistência, para deixar que a relação se torne verdadeira. Não é fácil construir, mas é sem dúvida uma benção! De quando em quando sentimos emoções complicadas por alguém que está ali, dia atrás de dia, a observar-nos, a aconselhar-nos, a ver-nos mais que outra qualquer pessoa. De quando em quando, o professor toca-nos no coração, e ás vezes directo na alma! Ou mexe com a nossa mente, ou “cutuca” intensamente algum ponto sensível, e não, não é fácil de digerir, quantas vezes chorei com o Sharath por exigir de mim o que eu achava ser impossível? Ou quantas vezes engoli as lágrimas com as repreendas de Peter Sanson, enquanto sua assistente num dos seus workshops? Quantas vezes me apeteceu sair para fora do Shala por estar magoada, ou entristecida? Até que no momento seguinte entender que não era nada a ver com Sharath ou com Peter Sanson, mas o meu belo Ego a dar-me trabalho e a minha consciência a apanhar-me em mais uma armadilha, e depois com jeitinho, com humilde, limpa-se as lagrimas, levanta-se a cabeça, tentasse a postura pela vigésima vez, e não é que afinal até conseguimos entrar dentro da posição mais um pouco, do que estaríamos de todo à espera? E depois de passar meses e meses a tentar aprofundar a dita postura, lá recebemos um “Vera, very good!”. Não é fácil construir a relação com um professor, como não é fácil construir nenhuma relação, seja com o nosso marido, filho, irmã, pai, amiga, patrão, empregada, etc. Porque somos pessoas, cheias de limitações e qualidades, mas é uma benção!  Basta irmos trabalhando a humildade,  com jeitinho dando voltas ao nosso Ego, e com inteligência apanharmo-nos na altura certa, e com precisão tomarmos lições para a vida!

 

BOAS PRÁTICAS

Recommended Posts