OLHA PARA UMA DAS TUAS FOTOGRAFIAS
Já alguma vez encontraste uma fotografia, no teu telemóvel, no álbum aí de casa, numa caixa perdida no sótão, na garagem da casa dos teus pais ou dos teus primos, e de repente, o tempo e o espaço deixam de ter qualquer tipo de barreiras, e consegues voltar a sentir-te naquele exacto momento? E percebes que naturalmente estás a fazer um exercício bom, daqueles onde vives amor e gratidão, e que reconheces que estás em paz.
Já lá vão uns anos, e enquanto olho para esta fotografia, inevitavelmente fico a lembrar-me de todas as viagens que fiz para aquele lado do Mundo. E sabem que mais ? É que nem sempre foram viagens levezinhas e fáceis, e não tinham nada de umas típicas temporadas de férias. Porque foram muitas as vezes, que cheguei à Índia com a sensação de continuar perdida dentro de mim mesma, era uma miúda de 22 anos, depois 24, 25, 26, 27 e por aí adiante, e que apesar de praticar diariamente Yoga, sentia-me exausta depois de mais um ano inteiro de trabalho, de ensinar aulas de Segunda a Sexta-feira, de manhã e à tarde, alguns feriados e fins-de-semana!
Estava cansada internamente de lutar por um sonho difícil de ser professora de Yoga e ter uma escola tradicional de Ashtanga, em Cascais. Tão fraca emocionalmente por ainda desconhecer a arte de me proteger do ensino, e de não saber guardar energia para mim mesma, mas também, e acima de tudo, por ainda procurar fora, aquilo que sempre existiu cá dentro. E no entanto tudo isto fez parte de um processo em idade e maturidade, na vida, e também no aprofundamento da prática e no ensino.
Naquela altura pedia ao Universo, proteção e benção de crescer em vivência e profundidade como praticante, aprender a melhor partilhar o ensino, mas também em encontrar um grande amor e ter filhos. Sempre quis ser mãe, ter uma família grande, viver um grande amor com o homem da minha vida, ter a casa com a cerca, num lugar mais distante da cidade, onde houvesse mar por perto, surfar sem medos, e todo um par de sonhos de quem ainda estava em plenos 20 anos!
Passado mais de uma década, sorrio para esta foto, para estas miúdas, vindas de culturas e realidades distintas, e talvez com sonhos semelhantes.
Olho para a foto, e não sei como foi a vida da rapariga atrás, se pode efectivamente estudar, e exercer a profissão dos seus sonhos, se casou por amor, se já tem filhos, se ainda vive emLakshmipuram, em Mysore, no Sul da Índia? E depois olho para a imagem de mim mesma, e sorrio para aquela miúda, que no meio das suas muitas limitações, a maior parte todas impostas por ela mesma, lá conseguiu motivar-se para continuar a trabalhar pelos seus sonhos. Abraço aquela rapariga que sou eu lá atrás, no meu passado, abraço-a forte, e digo-lhe ao ouvido, que a amo. Choro com ela, lágrimas de alegria, de gratidão, de orgulho do caminho que percorreu. Sorrimos uma à outra, porque reconhecemo-nos nos traços que fazem ser quem somos, e há coisas que não mudam, há coisas que são nossas, e talvez para todo o sempre, e no entanto existem aquelas que vamos alterando com consciência, inspiração, dedicação, vontade sem limites de crescer com a nossa melhor versão. E com muita consistência e coerência de sabermos o que queremos para nós mesmas, despedimo-nos do nosso passado, e voltamos ao presente ainda com mais convicção!