O LUGAR DA MINHA INFÂNCIA

Há quase uma década que não vinha a esta terra.

E este regresso é ainda mais especial porque fiz a viagem só com a Concha!

Foi uma viagem de carro  que me levou às minhas memórias de criança, onde ansiava pelo mês de Agosto para puder visitar este lugar que sempre me encheu de liberdade, por sentir que facilmente podia misturar-me no meio da natureza, de sentir as raízes da minha família materna, de viver em plenitude os dias compridos de verão, de acordar cedo e deitar-me cansada de tanta actividade mas também de contemplação.

Dos mil mergulhos nas ribeiras, das brincadeiras com os primos e amigos, dos lanches a meio da tarde com fruta da época e biscoitos caseiros, das caminhadas longas de volta à casa da minha avó e dos meus tios. Mas também da procissão de velas na noite do dia de festa da aldeia, das vestimentas para ir à missa no Domingo de manhã, dos bailes de música popular no dia da festa da terra, e acima de tudo das muitas imagens com a minha avó Adelaide a vestir-se no quarto pequenino para sair cedo para dedicar-se à agricultura, ou para ir dar alimento às cabras e galinhas, ou quando no seu regresso me trazia morangos pequeninos, ou amoras selvagens,  de a ouvir a rezar o terço a cada fim de dia, num real ambiente e ritual de meditação, das nossas conversas e do seu riso, e das saudades que tenho dela, e também de um sentimento estranho que não sei categorizar, por  ter a sensação de não ter aproveitado melhor o tempo enquanto ela por cá esteve!

Tenho tantas lembranças deste lugar, e tantas saudades daquela mulher pequenina com uma grande alma!

Quando chegámos ao final da estrada, demos com a minha mãe que veio a pé ter connosco com um sorriso enorme, tamanha era a sua felicidade, de ter filha e neta com ela.  A nossa casa é uma das primeiras da aldeia, e talvez uma das mais bonitas. Era um sonho da minha mãe ter ali uma casa, demorou mas conseguiu concretizar. A casa é linda, a vista é incrível rodeada por vales repletos de verde, e com vista para a parte central da aldeia.

Quando acordei às 6.30 da manhã do dia seguinte, ainda meia adormecida porque a noite não tinha sido fácil, a Concha rodou na cama que partilhámos a cada cinco minutos, e a esse movimento constante juntou-se uma sinfonia maravilhosa que escutei do quarto em frente, um roncar que é tão familiar, o do meu querido pai! Foi uma verdadeira aventura para pegar no sono, mas mesmo assim valeu a pena! Porque acordei, subi a estrada uns bons quilómetros com o meu café na mão para conseguir ter rede no telemóvel, para mostrar-vos esta pequena, grande paisagem que faz parte das minhas memórias. Esta terra chama-se Cabeça, fica colada a Loriga, e perto do Piodão, é a terra dos meus avós maternos, e onde a minha mãe nasceu e cresceu até ter vindo para Lisboa. É simplesmente linda, não tem o mar por perto, mas a energia da Serra da Estrela que está ali para cima, sente-se no ar!

 

 

BOAS PRÁTICAS

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