Mas o que se passa com isso das Luas e o Ashtanga?

Há alunos cá em casa, que ficam com ar surpreso e confuso sempre que aviso que no dia tal não haverá aula, porque será Lua Cheia ou Lua Nova!

Muitos deles esperam por mim na salinha de entrada, para perguntarem o que é que é aquilo das Luas e porque é que não podemos praticar nestes dias! Eu normalmente rio-me porque tem alguma graça a forma como o perguntam, quase que sussurram e se encolhem, como se estivéssemos a falar de um segredo, ou de um pecado!

Deixei-me já contar-vos que todas as escolas e professores que estudaram directamente no KPJAYI (Shri Krishna Pattabhi Jois Ashtanga Yoga Institute)  primeiramente com o Guruji, Shri K. Pattabhi Jois (1915-2009) e actualmente com Sharathji, Sharath Jois, que naturalmente colocam esta “regra” nas suas escolas.

  1. Porque Shri K. Pattabhi Jois acabou por trazer esta indicação para o KPJAYI, e Sharath Jois continua a não ensinar nos dias de Lua Cheia e Lua Nova.
  2. As razões talvez sejam muitas mais do que aquilo que eu irei expor, mas durante  estes 15 anos como praticante de Ashtanga Yoga, o que sempre ouvi dos meus professores, é que nestes dois dias há maior possibilidade de que o nosso corpo e a nossa cabeça estejam mais instáveis.
  3. Porque da mesma forma que as fases da Lua influenciam as marés, nós, seres humanos que somos maioritariamente constituídos por água, também  seremos instigados a estarmos predispostos para algumas alterações.
  4. A Lua Cheia surge quando está em oposição ao sol, e têm uma força de expansão, o que tende a deixar-nos mais activos, despertos, com visível energia, mas a mente  pode demonstrar  inquietação e falta de foco. A Lua Nova acontece quando está em conjunção com o sol, e traz consigo uma energia de contração, introspecção, reflexão, e de maior calma. E o corpo pode apresentar sinais de inércia  e  pouca vontade para movimento e actividade.
  5. Uma vez que utilizamos o nosso corpo e o nosso foco mental para fazermos Ashtanga Yoga, os meus professores da Índia acreditam que não deveremos praticar nestes dias. São dias para descansarmos da prática.
  6. O Ashtanga Yoga é dinâmico e forte do ponto vista físico,  e implica grande acréscimo de concentração, discernimento e foco mental, obriga a estarmos atentos à nossa respiração e ao momento presente. Guruji e Sharathji acreditavam que nestes dois dias estamos com maior influência energética capaz de perturbar as capacidades do nosso corpo e da nossa mente, e por isso haverá maior hipóteses de nos magoarmos.

O que escrevi aqui não tem grandes bases científicas, talvez possa existir alguém por aí que organize um estudo específico sobre esta questão. Haverá por ventura outras razões associadas ao facto de  não praticarmos nestes dois dias específicos, que advém da cultura e rituais hindus. Mas acima de tudo, é interessante que a prática de Ashtanga Yoga seja sensível aos ciclos naturais das Luas.

A Lua é um corpo celeste que se movimenta em grandes velocidades, é comprovado que há a sua influência nos oceanos, nas marés e na agricultura. Há quem fale da sua relação com o parto e o nascimento dos bebés,  com o crescimento do cabelo, com o comportamento dos animais e tantos outros exemplos. Acreditando ou não na sua influência no nosso corpo e na nossa mente, talvez se ficarmos mais despertos para estas relações, possamos regressar a uma vida de maior conexão com a natureza.

 

BOAS PRÁTICAS

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