#I M NOT YOUR BUDDY
Ensinar Ashtanga Yoga é uma arte. E como todas as formas de arte, implica tempo, experiência, dedicação e persistência. Além disso há que trabalharmos o nosso sentido de paciência e responsabilidade para assumir erros, e acima de tudo aprender com eles. Há que estudar mais, praticar mais, e ainda ser capaz de colocar de lado os problemas pessoais, doença, cansaço, e tantas outras condições que podem influenciar e moldar a forma de estarmos presentes na sala. É uma arte ensinar Ashtanga Yoga, e como todas as formas de arte, é algo em construção, em desenvolvimento, que não termina no final do dia, quando despimos as roupas de trabalho, mas que tem continuidade para o dia seguinte, e todos os dias que pisamos o chão do Shala. É uma arte que necessita constantes reparos, que não joga com comodismo, mas que obriga a humildade.
Dentro da sala eu não sou uma amiga, muito menos uma compincha! Claro que existem pessoas, que naturalmente e com a continuidade dos anos, passam a ser, para lá dos limites do Shala, mais que alunos. Confesso mesmo, que alguns se tornam grandes companheiros de amizade, de surfadas, de práticas, de viagens, de experiências, e que conhecem um lado desta professora que não é mostrado na sala. Porque eu existo para levar-vos a lugares dentro de vocês que nem sempre são agradáveis, que nem sempre são simples, fáceis e alegres. Seja porque entram dentro de uma postura que fisicamente é exigente, ou porque estão com o corpo numa posição que desencadeia emoções intensas, medo, raiva, tristeza profunda, vontade de chorar, vontade de fugir, vontade de reagir, etc. E ali estou eu, ao vosso lado, não como amiga, mas amparando-vos numa vivência que trará lições de prática, e provavelmente de vida.
Quantas vezes observo algum de vocês a chorar, homem ou mulher, com gotas de água a escorrerem pelo rosto, porque algo acordou dentro de vocês. Quantas vezes vejo raiva no olhar, às vezes jogado para mim, mas na realidade é algo vivido de vocês para vocês, porque sentem tamanha dificuldade, tocam frustração, e angústia. E ali estou eu, ao vosso lado, não como amiga, mas como suporte sólido de consistência, de presença. Ali estou eu, a observar tudo, os vossos dias maus, e também aqueles tantos dias, em que tudo é fácil, leve, fluído, onde os olhares e as expressões são de alegria, de orgulho, de entusiasmo, de garra, de vida.
Os anos passam e continuo a ter a noção que tenho tanto para aprender sobre o Ashtanga Yoga, e ainda mais sobre pessoas. Mas se há coisa que os anos me mostram neste caminho incrível de ensinar Yoga há 14 anos é que não sou vossa amiga, não sou vossa compincha, mas sou vossa professora. Estou na sala, dia atrás de dia, para ajudar-vos a criarem uma prática segura de Yoga, onde serão superadas barreiras físicas, mentais e emocionais que outrora vocês sentiam como limitações.