#Francisco
Ontem vi um post no Facebook que me surpreendeu e entristeceu. Tinha acabado de adormecer a Concha e feito as minhas preces para que cresça com saúde, quando abri a aplicação e deparei-me com o primeiro post, seguido de vários outros, todos sobre o mesmo tema.
Conheci-o há muitos anos atrás, há bem mais de 10 anos, quando estava a passar por uma fase de muitas dificuldades, de grande confusão mental e emocional. Já praticava Ashtanga Yoga, foi logo nos primeiros anos de prática, onde ia com entusiasmo aprender com o Tarik, normalmente era das primeiras alunas a chegar à sua escola, estendia o tapete quando o meu professor estava a terminar a prática dele. Nos dias que não aparecia nas aulas, devia-se ao problema que andava a enfrentar, não o escondia das pessoas próximas e falava abertamente sobre a questão, porque era algo que não compreendia, por ser completamente oposto ao caminho que há anos procurava para mim, o do Yoga, de limpar o meu corpo, de acalmar a minha mente, de serenar o coração. Para depois fazer um comportamento completamente contraditório ao que aprendia em cima do tapete, totalmente descompensado, vicioso, angustiante, e potencializador de emoções nada positivas, que me levava para lugares dentro de mim mesma, de muita tristeza, desconsolo e confusão. De cada vez que tinha mais um destes episódios, ficava de rastos, talvez pela minha natureza perfeccionista, talvez pela falta de entendimento das causas e razões que me levavam a repetir dia atrás de dia algo que reconhecia que não me fazia bem. Depois de decidir procurar ajuda, recorri ao Instituto Macrobiótico, com consultas com o Francisco Varatojo. Era uma miúda, já com responsabilidades, já ensinava Yoga, e tinha um sonho, de ser professora e de um dia ter uma escola. Cheguei à consulta e expliquei-lhe o que se passava, lavada em lágrimas, um rol de emoções a vir ao de cima, e ele, com todo o carinho e simpatia, ouvia, sorriu imensas vezes, e apazigou-me. Perguntou-me várias questões sobre como me alimentava, fez-me entender vários aspectos sobre a alimentação, traçou um plano para mudar a forma como confeccionava as minhas refeições, pediu para adicionar novos alimentos, substituir e eliminar outros. Ensinou-me os princípios da Macrobiótica e desde essa consulta, que aqueles conselhos servem-me sempre para recuperar equilibro na forma como me alimento. Ajudaram-me muito a superar um problema que tinha essencialmente a ver com o facto de eu não nutrir o meu corpo com a quantidade certa de nutrientes, da ignorância que tinha sobre ser vegetariana, do que precisava de compensar, e substituir. De me alimentar de acordo com as estações do ano, de dar primazia a determinados alimentos pelo seu aporte nutricional mas também energético, de eliminar ou reduzir outros que de todo, tinham uma consequência negativa directa no meu corpo e mente. Foi efectivamente a partir da primeira consulta, e com as alterações que fiz, advindas dos conselhos do Francisco, que gradualmente, em modo de “baby steps”, fui começando a entender como melhor me alimentar, o que mais tarde se traduziu numa melhoria gigante de qualidade de vida e no meu estado de saúde.
Há uns meses atrás, nos meus primeiros meses de gravidez da Concha, voltei a ligar para o Instituto e a marcar consulta, desta vez com a Geninha, a esposa do Francisco, para receber aconselhamento sobre alimentação na gravidez. Estava no primeiro trimestre, com imenso cansaço, e muita fome, que se traduzia em vontade de comer mais doces, o que naturalmente me fez recordar as dificuldades de outros tempos. Enquanto aguardava pela Geninha, cruzei-me com o Francisco e falamos um pouco, cumprimentámo-nos, e eu disse-lhe que não sabia se ele se lembrava de mim, mas que ele tinha sido a minha grande ajuda há uns bons anos atrás. Ele sorriu-me, e disse que se recordava bem de mim. E ficámos ali alguns instantes a conversar, falei-lhe que estava à espera de bebé e que vinha pedir conselhos. Ele acabou por sair da sala, para me deixar a sós com a Geninha, e mais uma vez recebi ajuda de alguém bem experiente na arte de nos alimentarmos. Recebi um conjunto de novos instrumentos e arrumei dentro de mim a vontade dos doces, passei o primeiro trimestre a colocar em prática as recomendações que trouxe do Instituto, e os restantes meses vivi-os em paz sobre a temática alimentação.
É com enorme tristeza que li a notícia do falecimento do Francisco, sei por tantas outras pessoas que estudaram no Instituto, e que tiveram ainda maior contacto com este senhor, que perdemos uma pessoa muito especial. O meu forte abraço à Geninha e aos filhos.
BOAS PRÁTICAS
