#ESTÁ TUDO BEM, E TUDO VAI CORRER BEM

Quando eu falo de saudades de surfar e de praticar, o Jo responde, “Mas agora já estás quase a puder voltar…”. Eu sorrio de volta, olho para a Concha, guardo as saudades dentro de mim, e dou graças de a ter nos meus braços.

Sim, tenho saudades de entrar dentro de água, voltar a sentir a prancha debaixo dos meus pés enquanto faço finalmente, uma onda. Parei quando estava com 5 meses e meio de gravidez, mas tive o privilégio de puder continuar, quase diariamente a ir à praia para as minhas caminhadas, ou para ver o Jo a surfar, ou para dar mergulhos. Até ao parto mantive contacto com o mar, foi de uma outra forma, mas acabou por ajudar a não sentir tanto a sua falta.

E sim, tenho saudades de praticar, consegui manter o Ashtanga até dois dias antes do parto,  foi um Yoga adaptado à gravidez, mas lá estive semana atrás de semana em cima do tapete, enquanto a minha barriga se tornava mais e mais proeminente.

Depois do parto e dos primeiros dias em casa, e de ganhar uma rotina com a bebé, as saudades surgem de forma mais intensa, porque nestas semanas  não tenho ainda, o privilégio de ir à praia, de dar mergulhos, ou de simplesmente ficar a ver o Jo a apanhar umas ondas, e até agora ainda não pisei o meu tapete para abraçar uma prática que eu tanto amo. Mas existe esta bebé linda para mimar e cuidar, e por isso guardo sabiamente as saudades para a altura certa de as satisfazer, e aguardo calmamente por outras fases. Esta é uma nova jornada e está tudo bem, e tudo vai correr bem, bastará alguma dose de discernimento, calma, foco, aceitação, coragem e dedicação.

Existem várias teorias de como retomar a prática de Ashtanga após o parto, as diferenças começam logo pelo o facto da mãe ter tido um parto natural ou por cesariana. O Guruji e também Sharath recomendam que a praticante pare o Ashtanga durante 3 meses após um parto natural, e 6 meses no caso de cesariana. Se pesquisarmos sobre o assunto, recolhemos informação directa de várias praticantes que seguiram estas directrizes e muitas outras que optaram por outros “timings” para o seu regresso. Acaba por ser uma decisão da praticante, mas sem dúvida que deve falar com os seus médicos, e de acordo com as suas recomendações, ter a calma necessária para iniciar um processo de regresso ao Yoga, sem pressas, julgamentos, objectivos ou agendas.

Hoje foi o primeiro dia que subi ao tapete, mas não, não pratiquei Ashtanga Yoga. Decidi que a primeira vez que fosse ao tapete, seria para aprender os exercícios de pós-parto que a Sharmila Desai e a Anna Wise escreveram no livro delas, ” Yoga Sadhana For Mothers”, e devo dizer-vos que são indicações simples, mas onde vivi uma experiência estranha, senti a barriga vazia! Vocês respondem, ” Sim Vera, já não estás grávida!”, mas depois de quase três semanas apenas com tempo para aprender a cuidar da Concha e a conhecê-la, acho que foi das primeiras vezes que realmente reparei que tinha outro corpo, porque já não vivo num corpo de grávida.

Fiz os exercícios de respiração, com consciência no abdomen e no transverso, e nas contrações pélvicas,  e relembrei-me de como a Sharmila me alertou para o quanto é fundamental conseguirmos escutar o corpo, e irmos devagarinho trabalhando numa recuperação sem pressas, mesmo que as saudades de praticar sejam muitas, mas a realidade é que já não somos a mesma pessoa, e agora além de conhecermos os nossos bebés, teremos de fazer um processo de nos reconhecermos neste novo corpo, de não grávida.

Ainda não sei quando volto à minha prática, estou à espera de conseguir escutar um pedido verdadeiro por parte do meu corpo, e não fruto da voz da minha mente que viaja ao passado, e me traz saudades ao coração.

 

BOAS PRÁTICAS

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