COFFEE LOVER

Se durante uma boa  parte da minha vida, eu achava que não gostava de café, porque associava o sabor às  viagens nas férias de verão com os meus pais, onde antes de entrarmos no carro, tomávamos o famoso galão escuro, deixando-me agarrada à barriga a cada nova curva,  das nossas antigas estradas nacionais, com aquela mistura na boca e uma constante sensação nausea e enjoo.

Só muito mais tarde é que comecei a deliciar-me com o café, ao ponto de ser a primeira coisa que fazia ao  acordar, bebericar lentamente uma caneca cheia de café quente, preto e sem açúcar, enquanto lia ou escrevia nas primeiras horas da manhã, quando o resto da casa estava ainda em silêncio. O hábito ficou tão forte, que acabou por tornar-se um dos meus rituais matinais. E quando viajo para ir ensinar ou para descansar,  a primeira coisa que tento entender é se há no sítio onde vou ficar, alguma máquina ou utensílio para fazer café!

O Yoga não tem nada a ver com apego, mas a verdade é que eu mimei e conservei durante anos, com muito amor e cuidado, este meu desejo por café.

Há uns dias atrás acordei super mal disposta, com a barriga inchada, e com a sensação de não estar digerir, com dores de estômago fortes, sensação de nausea profunda, e enjoo até não mais,  sem a mínima energia no corpo, zero de forças para mais nada que não estar deitada, encolhida sobre mim mesma. Fiquei assim horas, sozinha, porque o Jo já tinha saído para surfar, quando voltou encontrou-me completamente prostrada.  Em algumas alturas com dores mais fortes e muito enjoo, outras só dormia, mal me conseguia colocar de pé. Sempre que tentava beber ou comer, era ainda pior, a única coisa que aliviava era efectivamente estar deitada, e o alívio era maior quando conseguia vomitar (desculpem a descrição!).

Depois de um dia destes, sem quase comer ou beber, o que é que surgiu na minha mente? A única coisa que me lembrei de perguntar ao Jo antes de adormecer foi, “…e amanhã? Como será sem café?”

No dia a seguir acordei com a sensação de estar recuperada, mas não fazia qualquer sentido pedir um café, e escolhi um chá verde, beberiquei devagarinho, e comi lentamente uma fatia de pão quente. Os locais por aqui chamam o que tive de “Bali belly”, a mim pareceu uma valente paragem de digestão, ou alguma coisa do género. Mas passei o dia seguinte tranquilamente, e o que me surpreendeu é que o vivi sem café, ou vontade de tomar aquela mistura que eu acho que tanto amo.

Ainda não sei se vou aproveitar para estar apenas uns dias sem o tomar, ou pelo menos reduzir o seu consumo, ou quem sabe deixar de o beber. Atenção que não considero que o café seja um bicho papão, até porque há imensos estudos que confirmam vários benefícios do consumo equilibrado deste maravilhoso estimulante, mas devo confessar-vos que está a ser engraçado colocar-me à prova, para testar-me  mais uma vez, nesta coisa de quebrar com hábitos que consideramos impossíveis!

Acho sempre positivo conseguimos colocarmo-nos à prova, não para ter de dar os resultados a ninguém, a não ser a nós mesmos, e observar internamente a forma como lidamos com a mudança e a novidade,  tentando o nosso melhor, pela única razão que realmente,  a vida sem apegos fica mais simples, e obriga-nos naturalmente a estar atentos e conectados ao presente.

Seja numa de parar ou reduzir com o consumo de café, acabar com os cigarros na vossa vida, ou com aquela cervejinha de final de tarde, que faz sempre o vosso estômago ficar virado do avesso, ou deixarem de comer aqueles cajus ou amendoins fritos (ou outra coisa qualquer) que satisfaz a gula, mas mais uma vez deixa-vos enjoados, ou qualquer outro hábito que denotam que o resultado é negativo por ser feito com demasiada regularidade e de forma excessiva.

Nada como mudar e tentar agir de outra forma, substituir o velho hábito por um novo!

 

 

 

 

BOAS PRÁTICAS

Recent Posts