# AND IT STARTED THE ROCK AND ROLL
Nas últimas mensagens que troquei com a minha grande amiga, que também é professora de Ashtanga Yoga, a Laura Miguel, ela escreveu que quando a bebé nascesse, que iria começar o Rock and Roll. Eu não entendi bem o que ela quis dizer, e respondi-lhe apenas com um boneco amarelo que esboçava um “smile”.
E na realidade quando a Concha nasceu começou o tal do Rock and Roll! Antes disso, as contrações vieram suaves durante a tarde de Sexta-feira e o dia inteiro de Sábado, e eram completamente suportáveis, ao ponto de eu comentar com o Jo, “Será que as contrações são isto? Se for assim, não é tão difícil como falavam!”
Fomos à praia, visitámos familiares, estivemos com amigos e fizemos duas caminhadas no paredão, uma das quais mesmo ao final da tarde, em passo rápido porque estávamos atrasados. Pelo caminho fomos encontrando amigos que perguntavam, “Então, é para quando!?”, eu respondia a rir, “Pode ser para agora, para hoje à noite ou amanhã…” e as pessoas riam-se de volta, por me verem tranquila. Quando me fui deitar no Sábado à noite, o desconforto ligeiro transformou-se em ondas de dor, muito seguidas, e que em poucos minutos alteraram-se para algo bem intenso, vinham, eu agarrava forte o braço do Jo, ficavam, e eu respirava fundo até que se decidissem ir embora. Falámos com a médica, que confirmou que seria melhor ir para o hospital porque podia estar a entrar em trabalho de parto. Antes de sairmos de casa, olhei para o Jo no inicio da escada da nossa casa e disse,” Ui, é agora não é?” e ele meio nervoso, acenou um sim.
No caminho do carro até ao hospital, as benditas malditas já estavam super intensas, vinham e permaneciam mais tempo. A determinada altura lembrei-me da frase que alguém partilhou comigo, mas não me recordo quem, comparava as contrações a uma onda que iria trazer a bebé para mais perto de mim, e que eu só teria de respirar.
Chegámos ao hospital, e na sala das urgências, quando as benditas malditas voltaram a aparecer, já me provocavam lágrimas nos olhos. Fui observada pela médica, que confirmou que estava no começo do trabalho de parto. NO COMEÇO! Eu só pensava “Se isto é o inicio, então como é que será o durante?!”
Levaram-me para o internamento, o Jo teve de ficar cá fora, e chegava a altura da decisão final sobre EPIDURAL ou não? Fiquei na totalidade 3 horas com dores intensas, as minhas contrações começaram logo muito rápidas e fortes, eu bem tentava respirar, recordar de todas as práticas e lições de Yoga que tinha feito até ali, mas para quem nunca teve nada de saúde, nunca esteve doente, nunca se magoou, aquilo tudo começava-me a parecer muito pouco suportável.
Respirava e respirava, mas a surpresa daquele tipo de dor que nunca outrora tinha sentido, destabilizava-me da respiração, e no final deste período de tempo, quando as “benditas malditas” vinham, já chamava o nome do Jo, gritava por ele no quarto, só o queria ali comigo, porque aquilo tudo era realmente doloroso, exactamente como muitas mães tinham descrito. As enfermeiras super queridas e atenciosas, diziam para eu respirar com calma para não me cansar, que as dores já estavam muito fortes, mas que seriam muito mais porque me faltava muitos dedos de dilatação. Com tantas histórias da minha mãe a familiares, amigas e conhecidas que tiveram partos sem e com Epidural, tomei a decisão final de, venham as drogas! Porque para ficar mais horas a fio em dor, não me fazia, e não faz, qualquer sentido. O procedimento demorou muito pouco tempo, e em alguns instantes já estava relaxada a olhar para o monitor que marcava mais uma contração, ao qual o meu corpo não estremeceu de dor intensa, sofrimento ou stress. Simplesmente vinham e iam, e eu podia continuar a respirar calmamente enquanto me preparava confortavelmente para o parto.
Quando me perguntaram ao longo da gravidez, se iria ter a Concha em casa, ou se iria ter um parto sem Epidural, a minha resposta foi sempre que decidiria na altura, porque nunca tinha estado numa situação de dor extrema, e por isso deixaria que a decisão acontecesse depois de estar a viver a experiência, invés de proceder a um plano elaborado de uma situação futura, que apenas traria expectativas.
Dormi uma parte da noite, o Jo também, de quando em quando aparecia a enfermeira para me observar, e definir os dedos de dilatação. Em poucas horas já eram 3/4, depois 6/8, e de manhã a médica disse que ia nascer em breve, que se ia preparar e que já nos víamos. Entrei para a sala de partos, foquei-me em seguir as indicações da minha super médica, a Élia Fernandes, que ia afirmando, “Uau! Que bem Vera, afinal o tal do Yoga funciona mesmo!”, e em 15m tinha a Concha nos braços, eram 11.41 da manhã. Não foram só os anos de Yoga que ajudaram, mas muito devo à Inês Vicente que me preparou para o parto, e igualmente à minha médica, que me amparou em todos estes meses de gravidez, e que esteve ali a ajudar-me a conseguir trazer a Concha ao mundo, assim como os conselhos e dicas da Sharmila Desai, que quer estivesse em NY, em Goa, ou no Brasil, foi falando comigo e dando-me inspiração e calma para atravessar com discernimento a gravidez, e ir tomando as minhas decisões quanto ao parto, sem julgamentos, ou ideias pré-instituídas.
E depois? Bom depois, começou o tal do Rock and Roll!
Quem já é mãe e pai saberá do que estou a falar! Quem ainda não é, saberá nos dias a seguir a já terem os vossos filhos nos braços. É um Rock and Roll bem agitado, daquele exigente, cansativo até, mas que vale a pena dançar!